As medidas que indicavam um corpo magro de miss
Quando o concurso se propusera a divulgar as medidas de uma miss, a mensagem que ele passava era o quão magra proporcionalmente aquela miss era e também se aproximava das medidas 90-60-90.
“O Miss Mundo foi o primeiro a eliminar o anúncio de medidas lá em 82, sempre muito pioneiro nas questões da mulher em vários setores. Hoje o Miss Universo deu passos imensos como a questão de eliminar o limite de idade, as casadas, mas em outras questões o Miss Mundo sempre vinha adiante. Foi o primeiro a tirar o traje de banho [como avaliação/parte do show]”, lembra Henrique Fontes, responsável pela realização do Miss Mundo Brasil.

Raissa Santana recorda os dias difíceis de quando era a Miss Brasil reinante: "Eu nunca fui uma mulher magra dentro dos padrões, sempre tive um pouco mais curvas. Isso inclusive me acarretou muitos distúrbios porque eu tinha que estar muito magra e a minha estrutura óssea, meu corpo muito grande, não tem a estrutura tão magra quanto eu gostaria que estivesse. Para mim, isso foi o mais difícil de lidar".
Já Larissa, a Miss Esmeraldas 2023, revela que teve propostas de parcerias para colocar bunda, peito e até fazer lipoaspiração durante a sua preparação, mas escolheu seguir a linha natural: “Não vou fazer isso porque o meu foco é levar para o mundo, para o universo, que nós mães somos maravilhosas e somos as reais mulheres brasileiras. Se você quer uma mulher brasileira para representar o Brasil, tem que ser uma mãe com a curva perfeita, e é isso que eu quero levar", diz ela, que vai disputar novamente o Miss MG ano que vem pela cidade de Divinópolis. Ela entrega que quer melhorar o corpo, sem tirar sua identidade.
"Eu realmente creio que não estava com o corpo da forma que eles precisam. Até os olhares das próprias candidatas você vê a diferença do olhar, a admiração delas por mulheres mais magras e 'corpo mais perfeito' e de nós, como eu e mais algumas que tinha uma pochetinha, uma perna um pouco mais grossa. Tanto que eu nem cheguei ao Top 20. [Agora] Vou defender a minha tese de que a mulher brasileira não precisa ter o corpo perfeito para ser perfeita. Acho que o que a gente tem dentro manda mais do que a aparência por fora. Agora eu vou com tudo e vou defender essa tese até o final e mostrar para todo mundo que não é porque eu sou mãe, que passei dificuldade, que eu vou desistir. Eu não vou desistir", afirma.
Sobre as mudanças recentes no concurso em que foi semifinalista, Raissa Santana opina: "Deveria ter mudado há muito tempo, principalmente a questão da idade, que limitava muito o que a mulher podia ou não fazer para depender da idade. E também em relação às mulheres casadas e mães. [...] Os concursos precisam mudar, eles já têm essas questões sociais complicadas, já é um concurso de beleza que está julgando a beleza da mulher em todos os aspectos, colocá-la em uma caixinha era mais complicado".
Parte das mudanças do concurso mais conhecido no Brasil também envolve quem eles realmente querem como representante, afinal, a miss vencedora não é de fato a mais bonita do universo (no Miss Universo), mas sim a miss que melhor representa o que a empresa Miss Universo quer, para então ser seu rosto durante o ano de reinado. Karina Ades, que foi diretora-geral do Miss Brasil Universo de 2015 a 2019, lembra que a inscrição no Miss Universo continha uma ficha de quase 20 páginas.
"Tinha uma pergunta que me chamou atenção: 'Você já mergulhou com um tubarão?'. Eu olhei e falei 'gente, pra que eles querem saber isso?'. E me dei conta que é uma pergunta que eles querem saber: tem alguma coisa interessante na sua vida que você possa dividir com o mundo? Eles procuram alguém interessante, com uma história para contar. Não adianta chegar lá e falar que é o sonho representar o país. É vazio, é pouco", conclui.
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