É possível lucrar com concursos?
Dados do governo de El Salvador, país que sediou o Miss Universo 2023, indicam que 65 mil turistas visitaram o país com uma estadia média de duas semanas, movimentando cerca de 177 milhões de dólares, algo em torno de R$ 868 milhões de reais. Entretanto, como já falado, não é possível saber o quanto o Miss Universo em si fatura com isso.
O que é dá para fazer é uma estimativa com quem entende do assunto, caso fosse colocado em termos gerais de etapa nacional, hotéis, restaurantes e viagens, para se chegar a uma média: “Se for colocar tudo, principalmente os principais concursos, Universo e Mundo, você pode falar em 5 milhões [de dólares em média]. Mas é tudo, cada detalhe. [O valor mesmo é] impossível saber exatamente”, lamenta Henrique Fontes.

A própria realização de um concurso como o Miss Brasil que era transmitido na TV aberta demanda um alto investimento: "Eu tinha um palco de 50 metros, dez câmeras, uma equipe de 300 pessoas. Uma operação muito grande. A gente tinha um hotel com 99 pessoas hospedadas durante dez dias. Eu tinha uma emissora do tamanho da Band por trás. Isso tem um custo e só alguém que está disposto a investir oito ou dez milhões por ano pode realizar tudo isso”, afirma Karina Ades. Na época de sua gestão, eram constantes as críticas a Be Emotion, segmento de beleza da Polishop, parceira da TV Bandeirantes: “Não é tão simples 'fora Be Emotion'. E quem vai bancar oito/dez milhões por ano?".
O faturamento dos concursos passa pela base. Larissa Luiza, Miss Esmeraldas 2023, fala que foi cobrada uma taxa de inscrição para participar do Miss Minas Gerais no valor de R$ 2.500. Esse dinheiro cobre hotel e alimentação durante o confinamento, e pode variar de acordo com o Estado da participante. Para ter a faixa de Miss Esmeraldas, ela precisou desembolsar mais R$ 250.
Uma outra parte importante na cadeia desse mercado da beleza é sobre a preparação envolvida com profissionais de media training, passarela, acompanhamento psicológico, coach/psicólogo, clínicas estéticas, aula de inglês, academia. Justamente uma cadeia que vai desde as cidades com preparadores e parcerias até a indústria estética, que pode pressionar, de certa forma, os concursos a continuarem nos moldes como sempre foram.
“Essa gente toda teria muito lucro se não fosse permitida candidatas como a Miss Nepal, porque aí a lipoaspiração e outras práticas de mudança corporal para deixar a miss no estilo Barbie continuariam sendo feitas. [Mas] Acredito que vai continuar aparecendo candidatas um pouco acima do peso. Isso sempre aconteceu, sempre houve misses ‘gordinhas’. Existem países como Tonga, Egito e ilhas do Pacífico que o corpo prestigiado é ‘mais gordinho’”, explica a pesquisadora Ana Maria.
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